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Autonomia capilar: Cronograma é a única opção?

  • Foto do escritor: Tai Cruz
    Tai Cruz
  • 12 de jun. de 2020
  • 8 min de leitura

Atualizado: 21 de set. de 2020

Antes de começar recomendo que você leia o primeiro texto dessa série chamado autonomia capilar: ninguém conhece seu cabelo como você. Tem informações importantes para dar continuidade aqui. Confia na tia Tai

Quando pedi sugestões sobre temas capilares de interesse geral, logo surgiu o cronograma capilar. Como falar sobre algo que eu não faço? Já comentei aqui que existem milhões de pessoas falando sobre cabelo nesse exato momento. Portanto, não gosto de encher vocês de informações óbvias. Acho mais interessante contar sobre a minha construção dentro dos temas. Seguiremos o mesmo rumo sobre o tema cabelo. E minha história sempre será de uma perspectiva cacheada, mas isso não quer dizer que não seja aplicável pra você que não é. No texto anterior, falei sobre a necessidade de aprender a reconhecer as necessidades do seu cabelo e como abordá-las. Hoje, vamos conversar sobre o começo dessa jornada.

Meu cabelo sempre foi uma incógnita. Quando criança era liso (vide a franjinha) com cachos nas pontas. Na adolescência virou um emaranhado. Vivia preso. Nas raras vezes que eu alisava para algum evento social, odiava o resultado. Apesar dessa breve fase no liso, ele sempre foi bem rebelde. Bastava uma brisa após sair do salão que o cabelo de arapuá estava de volta. Quando fiquei mais velha, a primeira pergunta que eu me fiz foi:


- Qual a forma do meu cabelo?

Descobri que não era um só. Meu cabelo é 2C embaixo e 3C em cima, com a raiz lisa. Como pode um cabelo ter mais de uma forma? Pois te digo que é a coisa mais normal do mundo. Avanço no tempo. O ano era 2012, tinha recém entrado na faculdade e continuava insatisfeita com meu cabelo. Pranchava a franja regularmente (quem nunca?). Lembro que tinha uma colega que pranchava todos os dias. Se não desse tempo, ela faltava a aula. Eu não queria ser dependente de nada, muito menos de algo que não me dava um bom resultado. Queria ter "cachos de verdade". Até cogitei comprar um babyliss, porém a preguiça foi maior.

Na mundo virtual, tudo era mato. Começavam os primeiros blogs que falavam sobre cabelos e especificamente cabelos cacheados. Comecei a consumir o conteúdo, ao mesmo tempo que aplicava as teorias no meu cabelo. Passei os primeiros anos achando que só shampoo, condicionador e creme de pentear dariam jeito. Consequentemente, passei anos com resultados bem mais ou menos. Cabelo exige tratamentos semanais. Indiscutível.


A primeira coisa que aprendi foram novas maneiras de finalizar. Existe um mundo inteiro além do clássico: “passar uma pequena quantidade de creme no comprimento todo e pentear”. Qual foi o ensinamento mais importante? Seja lá qual for o método, você precisa distribuir o produto por todos os fios do seu cabelo. Esse é um divisor de águas. Quando você leva isso em consideração, as chances da finalização darem errado reduzem 30%, juro. E foi daí que conheci a fitagem (método de separar o cabelo em fitas para espalhar o produto e separar os cachos).

O segundo ensinamento mais importante? Quando você lava/penteia seu cabelo, ele passa por um processo mecânico que “desmancha” o formato natural. Dito isso, é muito importante que você use produtos adequados às suas necessidades e estimule a memória capilar, ou seja, ative suas ondas/cachos. Sempre que alguém me pergunta como faço pra deixar meu cabelo definido, peço pra ela me contar como ela finaliza. Na maioria das vezes, a parte de ativar é desprezada. Definição e ativação aqui são quase sinônimos. Por isso sempre digo: amassa atéééé achar que tá bom. Achou que tá bom? Amassa mais. Aqui na Espanha elas chamam esse movimento de “scrunch” ou “muli muli” (risos).

Ainda é difícil pra você entender a relação entre a necessidade do seu cabelo versus produto adequado? Vou deixar alguns exemplos práticos.

1. Cabelos oleosos pedem finalizadores mais leves, aquosos; já cabelos ressecados pedem produtos mais densos, nutritivos;

2. Cabelos coloridos devem levar em consideração que existem ingredientes que desbotam mais rápido (como mel e/ou óleos vegetais);

3. Cabelos quimicamente danificados reagem melhor à carga de queratina do que cabelos saudáveis;

4. Cabelos porosos reagem melhor à reconstrução do que hidratação;

5. Creme de pentear dificilmente vai entregar o mesmo volume que mousse;

6. Finalização que dure vários dias (day afters na linguagem cacheada) geralmente pede por produtos além do creme de pentear; Óleos de finalização, géis, gelatinas, mousses e por aí vai.

Cabelo é ciência experimental, e a gente parte de alguns pressupostos básicos. Tudo que eu escrevi acima vai funcionar pra todas as pessoas com cabelo do mundo? Não! E é aqui que a gente entra no meu conflito com o cronograma. Vou começar deixando claro que esse texto não é uma campanha contra cronograma capilar. Acredito que é uma ferramenta incrível para quem tá começando a conhecer e cuidar dos cabelos. Inclusive existem aplicativos gratuitos para te direcionar nessa jornada. O meu objetivo é contar porque não funciona pra mim e que existe mundo além do cronograma. Afinal você não vai ficar nele pra sempre né?


Confesso que tentei colocar em prática umas três vezes. Nunca consegui manter sequer um mês. Na última vez, finalmente compreendi porquê não funciona pra mim. Pra começo de conversa, como o nome diz, é um cronograma, e eu não sou o tipo de pessoa que consegue seguir orientações milimetricamente calculadas. Se você é como eu, tamo junta. O cronograma é uma rotina de tratamentos baseada no estado atual do seu cabelo. Como se fosse uma bússola te guiando numa estrada de recuperação capilar. Entre as características analisadas para planejar sua rotina estão: porosidade, curvatura do fio, comprimento, espessura, oleosidade, danos causados, danos térmicos, estado atual e elasticidade.

Pra ilustrar melhor, resolvi montar um cronograma pra mim no aplicativo mais famoso que conheço sobre o método, chamado "meu cronograma capilar". Na avaliação da curvatura, eu encontro a primeira coisa que me atrapalha. A curvatura do fio está separada por grupos (liso, ondulado, cacheado, crespo), e portanto cabelos com mais de uma curvatura não são atendidos totalmente. Na parte da oleosidade, as descrições também não funcionam pra mim. Meu cabelo é seco, mas não necessariamente é áspero, quebradiço, sem brilho e com frizz como o aplicativo sugere.

Falando em frizz, por essa descrição parece que ele só existe nos cabelos secos, quando na verdade estão presentes naturalmente em todos os cabelos. Seu cabelo pode ser super saudável e ter frizz. Porque frizz também vem com o atrito (na tolha, na fronha...) e com a estática, por exemplo. Viver dá frizz. Vou lançar uma campanha com esse slogan (risos). Eles pedem testes caseiros de elasticidade (rígido ou elástico) e porosidade (baixa, média, alta). Dos quais se discutem a efetividade. São recomendadas três lavagens por semana. Depois de avaliar sua situação capilar, é proposto uma ordem de tratamentos semanais (a cada lavagem) para recuperar ou manter a saúde dos fios (um programa de 12 passos). Recomenda-se que nos dias que não forem de cronograma, se lave o cabelo só com shampoo e condicionador. É prático, rápido, fácil e ótimo pra começar. Mas no dia dia não atendia as necessidades reais do meu cabelo. Porque é padronizado pra condições básicas.


Qual é a função do cronograma? O primeiro passo. O cronograma é uma ótima oportunidade para aprender. Considere um experimento. Define um tempo limite e aplica o método. Já recomendei isso antes, mas vou repetir. Se não tiver boa memória, anota! Observa e anota quais são os estados atuais do seu cabelo e como ele reage a cada tratamento/produto/finalização. E continua estudando por fora, conhece os ingredientes, produtos e os rótulos.

Depois desse tempo, você junta tudo que aprendeu e começa a aplicar por conta própria na sua rotina. Intervindo de acordo com o que seu cabelo/rotina pedem e não mais engessada num cronograma. Todas as vezes que tentei me encaixar em um método com restrições (intervalos de lavagens, tratamentos fixos e selecionados ou ingredientes proibidos), acabei de certo modo limitando o potencial e as possibilidades do meu cabelo. Cada cabelo é único, com infinitas variáveis.


E o fato de não fazer cronograma não significa que não faça os tratamentos que o cronograma sugere (hidratação, nutrição, reconstrução e umectação). Uso e abuso de todos eles, mesmo porque esses tratamentos não foram inventados pelo cronograma. O cronograma só organiza o modo de aplicá-los na sua rotina capilar. E além desses, existem outros que talvez você não conheça se ficar presa só ao cronograma. Por isso, prefiro tratar intuitivamente, de acordo com as necessidades cabíveis do meu cabelo. De acordo com o que vejo e sinto no dia dia.

Como funciona pra mim? Sempre faço tratamentos em todas as lavagens. E a minha praticidade está em usar máscaras de resultado rápido (5 min no máximo). Minha prioridade é hidratar para repor água e vitaminas e nutrir/umectar para repor lipídeos e manter a água nos fios. Quando sinto que a situação está crítica, aposto em hidronutrição (não decepciona!). De tempos em tempos (principalmente próximo às químicas/tinturas) faço reconstrução para repor proteínas e aminoácidos. De acordo com os processos que eu submeto meu cabelo (química, sol, mar, piscina, suor, etc), sei o que ele perde e o que preciso repor.


Já dizia o ditado: "Nem tudo que reluz é ouro". Geralmente quando aprendo coisas novas, me torno muito rígida (isso é certo e aquilo é errado) com etapas, métodos e ingredientes. Com o tempo fui aprendendo que geralmente só saio perdendo com isso. Por exemplo: passei meses ou até anos insistindo em fitagem pra finalizar, porque entendi que era o "certo" a se fazer. Quando na verdade, existem formas bem mais simples e rápidas de finalizar que funcionam bem melhor pro meu cabelo. Melhor é observar e testar sem preconceitos. Quando eu entendi isso, abri a caixinha de pandora capilar.


Cabe alertar, que o cronograma virou ferramenta mercadológica do consumismo. As empresas sabem que vende muito e investem pesado. Uma enxurrada de produtos e linhas novas a todo instante e pessoas te incentivando cada vez mais a comprar. A verdade é que, um bom shampoo, condicionador, hidratação, nutrição, um creme de pentear e um óleo vegetal, já fazem um bom trabalho. Não me entenda mal, é ótimo que tenha bastante conteúdo e produtos disponíveis. Melhor coisa do mundo é ter referências confiáveis para você escolher uma opção. Ninguém quer jogar dinheiro fora.

Você pode ter milhares de produtos se quiser, é um direito seu. Mas você não precisa de todos eles. A coisa é muito mais simples do que parece. E esse enxame consumista às vezes afasta pessoas com menor poder aquisitivo. Faz elas acharem que não tem condições de cuidar do cabelo ou de manter um cabelo natural. De que forma tudo isso vai funcionar pra você? Você só vai saber testando. E não precisa decorar tudo isso de uma hora pra outra. Você vai aprendendo na prática o que funciona e não funciona. Não leve tudo ao pé da letra. Formato do cabelo, frizz, textura, porosidade, grossor, cronograma, sulfatos, silicones, parabenos e etc... Tudo é influenciado por tantas variáveis. No fim, acho que não queremos novos padrões obrigatórios para aderir.

Com amor, Tai

Próximo tema capilar: 1. Falaremos de rótulos (etapas de cuidados e ingredientes) ou 2. Demonização do sulfato, silicone, parabenos e afins? Me digam aí!

Nota mental: Não adianta reclamar do cabelo ressecado, com frizz e que não cresce, se você não cuida. Cabelo precisa de amor e cuidado pelo menos duas vezes na semana. E cabelo cresce de dentro pra fora. Lembre-se que se alimentar bem e beber água são fatores primordiais para bons resultados e crescimento saudável.

Fontes:

Imagem 2 (produtos): Alaina Johnson imagem 3 (gif): Benoit Dr Imagem 4 (app): www.apkpure.com Imagem 5 (frizz): Dina Rodriguez Imagem 6 (crespo): Rachel Kim

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