"E o cachorro?" - A gente leva ♥
- Tai Cruz
- 30 de nov. de 2019
- 8 min de leitura
Atualizado: 21 de set. de 2020
Foi aí que começou a saga de levar o cachorro para a Espanha. Se você, como nós, é entusiasta, defensor e amante dos animais, e ao mudar de país, jamais deixaria seu bichinho para trás, esse texto é pra você. De cara, é preciso dizer que infelizmente, algumas raças caninas não são permitidas nos porões dos aviões. Isso varia se o voo é nacional ou internacional e da companhia aérea. Essas raças são tidas como agressivas e/ou braquiocefálicas (com predisposição para ataques cardiorrespiratórios). As raças braquicefálicas podem viajar na cabine, junto com seus donos, desde que respeitem os limites estabelecidos pela companhia.

O segundo ponto é saber as exigências de transporte da companhia e do país de destino*. As exigências da companhia variam em questões como: Dimensões da caixa de transporte (deve ser sempre padrão IATA), peso permitido na cabine (08 a 10 kg) e no porão (20 a 45 kg), quantidade de animais permitidos por passageiro (geralmente 2) e valor do transporte (em média 100 a 300 dólares). Por fim, a depender do tamanho do seu animal ele poderá ir em uma caixa apropriada (grande o suficiente para que ele fique em pé e dê uma volta 360°) no compartimento de cargas ou na cabine (animais pequenos, cães guias ou animais de apoio emocional).
Aqui, eu faço um alerta, se você pretende viajar em breve, precisa saber que esse é um processo longo e precisa ser iniciado com no mínimo 5 meses de antecedência. *Se você tem intenção de viajar com seu pet, as exigências para entrada de animais de companhia na Europa estão em um check list no fim desse post. ♥
Nossa Experiência

Nós contratamos uma empresa de logística para cuidar do envio da sorologia e emissão do CZI (Certificado Zoosanitário Internacional). Existem algumas empresas no mercado, o valor varia de acordo com os serviços prestados, e é bem simples pedir um orçamento personalizado. Nós escolhemos a PET TRIP, uma empresa paulista. O valor desse serviço é bem salgado, mas te livra dos compromissos burocráticos mais chatinhos da viagem, certo? Errado. Mas a gente chega lá.
Não encontramos veterinário (a) que fizesse a chipagem em Jequié, pra variar. Primeiro atraso. Colocamos o microchip na clínica Mundo Vet em Vitória da Conquista, que inclusive cuidou de Hórus enquanto fazíamos nossos passaportes. Super recomendo! Cerca de uma semana depois, nós fizemos a vacinação antirrábica com a veterinária dele em Jequié. Um mês depois da vacinação, fizemos a sorologia. A empresa que contratamos me enviou um protocolo de armazenamento, pois o soro não poderia ficar em temperatura ambiente e muito menos encostar no gelo que o manteria estável. E nos recomendou que enviasse via sedex 10.
Começaram os problemas. Quem disse que Jequié tem sedex 10? Arriscamos mandar por sedex mesmo, de dedos cruzados para que chegasse intacto. Alerta aqui: os correios tem uma política restrita (a laboratórios com contrato) para envio de amostras biológicas. Depois de uns três dias sem dormir, finalmente o soro chegou em SP. Quando achamos que estava tudo ok, a empresa nos disse que só enviaria a amostra para o laboratório quando fechasse um pacote (dali a 15 dias). Aí a minha ansiedade já estava comendo no centro. Depois desse prazo, descobrimos que o laboratório era nos Estados Unidos (risos de nervoso) e demorou não sei quantos dias para chegar lá. Pelo menos o prazo da quarentena já estava contando (acabou no dia 11 de outubro, menos de um mês da data da viagem).
No meio disso tudo, em agosto, nós ganhamos as nossas passagens de presente da minha mãe, pela LATAM. No início, parecíamos ter tirado sorte grande, no meio, parecia um enorme pesadelo, o final, foi o melhor possível. Nós temos um labrador gigante de 30 kg e o limite de peso das companhias aéreas eram uma preocupação constante. Antes de comprar a passagem, pesquisamos a fundo as restrições. O site da LATAM diz que eles fazem transportes de animais de 32 a 45 kg no porão. Para Europa, o limite indicado era 32 kg. O problema é que a caixa adequada para um animal do porte de Hórus pesa de 11 a 12 kg.
A agente de viagem e a empresa de logística nos recomendaram ligar para a LATAM e confirmar as informações. Fizemos isso e a atendente da central nos disse que para o trecho escolhido (Salvador X Madrid) era permitido 45 kg no porão. Alívio? Ledo engano. Compramos as passagens no dia 13/08 e no dia 14 solicitamos a reserva da vaga de Hórus no porão. Pelo regulamento da empresa aérea, eles têm até 72 horas para nos dar a resposta, seja ela positiva ou negativa. Nesse meio tempo eu tive que parar a terapia por motivos de: grana toda investida na viagem. A minha psicóloga até me ofereceu algumas sessões gratuitas com a boa intenção de me ajudar a não surtar até o dia da viagem.
A LATAM respondeu a solicitação no dia 8 de outubro, negando o embarque de Hórus por excesso de peso!!! Sim, o mesmo peso que eu liguei para confirmar. Aí eu surtei pela primeira vez. Todo mundo dizia que ia dar certo, mas eu não conseguia confiar em mais nada. Graças aos Deuses e Deusas a minha rede de apoio é maravilhosa e não me deixou cair. Me apoiou e brigou comigo até o fim. Nesse meio tempo aconteceu a nossa despedida, meu aniversário, tudo de um jeito meio louco sabe? Foram inúmeros e-mails, horas de ligações, modo de espera e descaso, até um atendente me dizer no dia 17/10 que se eu não provasse a ligação que eu alegava ter feito com a informação errada dos 45 kg, eles não fariam nada por mim. Acontece que a central não tem protocolo de atendimento e eu não tinha como provar nada.
Fomos orientados e em uma conversa com a psicóloga, conseguimos um atestado de animal de apoio emocional para anexar ao processo e fortalecer o nosso caso. Todo mundo estava unido em prol disso, minha mãe procurava outras formas de transporte, Silas conversava com um advogado a possibilidade de pedir uma liminar ao juiz, minhas amigas procuravam alternativas (e usavam da sua influência para mobilizar informações). Até que um dia, minha prima resolveu ligar para a LATAM e perguntar a mesma informação. E não é que eles deram a informação errada de novo? Aí eu entendi que não foi um erro. É uma prática comum. Liguei novamente para a central, pedi a mesma informação e gravei tudo. Gravei a ligação, o nome do atendente, a hora, o dia, de onde liguei. Com tudo isso em mãos, eu voltei a ligar para o SAC e avisei a eles que achava adequado eles que tratarem com atenção e dignidade agora que podia provar, porque eu ia até as últimas consequências (aloka, risos). Eles me pediram mais CINCO DIAS ÚTEIS para analisar.
No dia 22/10 eu recebi o primeiro email da LATAM me pedindo desculpas (ora ora) pelo tratamento destinado ao caso, assumindo o erro e disposta a resolver tudo. Desde então eu fui tratada com dignidade e humanidade. Me deram duas opções: Enviar ele pela LATAM CARGO como uma carga pesada (custa 5000 reais, mas eu pagaria "apenas" a taxa que me informaram pelo telefone – 300 dólares e eles cobririam o restante) ou levar ele na cabine como animal de apoio emocional (serviço gratuito). Não tinha muito no que pensar. Aceitamos a opção de levar ele na cabine, mesmo receosos de como ele iria se comportar, pedimos a devolução da caixa que tínhamos comprado (ainda não recebi o estorno) enviamos diversos documentos necessários para tal e ficamos esperando a confirmação. Mas, como desgraça pouca é bobagem, ainda tinha a última provação.
Estávamos nós a caminho de Salvador para buscar um documento no consulado e recebo uma mensagem da empresa de logística dizendo que eu deveria mandar todos os documentos originais + procuração para SP por sedex 10 (????) no dia seguinte (26/10), para que dia 28/10 eles pudessem dar entrada no CZI, que por ser por meio de procuração só ficaria pronto dia 31/10 a tarde. No dia 01/11 eles me enviariam tudo de volta por sedex 10 (????) e receberia a tempo no sábado (????) para viajar no domingo. Jamais daria tempo. E olha que eles se esforçaram pra me convencer do contrário, mas eu não cedi. Meus documentos iam ficar perdidos no correio e o cachorro não ia embarcar.
Preciso dizer que eu surtei de novo? Acho que não. Gritei, chorei e esperneei no carro mesmo. Se o universo estava me testando, eu falhei miseravelmente. Mas mesmo no desespero, a intuição soprou: e se você mesma for fazer no aeroporto de Salvador? Foi a salvação! No aeroporto de Salvador não precisava de 30 dias de antecedência. A empresa agendou para o dia 31/10 e enviou o resultado do exame original para mim por sedex. Chegou em cima da bucha. Fizemos o atestado e nos despedimos da melhor veterinária que já encontrei, Roberta, que atende na late mia em Jequié.
Nós criamos uma relação de amizade e carinho (nos nossos papos, descobrimos que nosso primeiro encontro foi na Pizzaria dos pais dela). Sério, os encontros desse mundo não são por acaso. Sem ela e sem todas as outras pessoas que fizeram tanto por nós, nada disso teria dado certo e não estaríamos aqui. Somos eternamente gratos a vocês. E eu fui, fui de madrugada, num bate e volta de ônibus e fiz o serviço que pagamos caro para eles fazerem. Não sem sacrifícios. E fiz questão de deixar bem claro para eles, que por causa de uma falta de comunicação da empresa, “perdi” a última semana no Brasil. Justamente a que tinha escolhido para ficar com a minha família. A confirmação da LATAM chegou dia 01/11, nós embarcamos dia 03/11 e depois disso, tudo finalmente deu certo. Falei demais, né? No próximo eu conto como atravessamos terra, mar e ar para chegar aqui, tá?
NOTA: Não foi fácil né? Mas nós faríamos tudo de novo se fosse preciso. Nada supera o prazer de ter vencido tudo isso e de ter trazido nosso filhote conosco. As críticas virão viu? muitas pessoas usarão as dificuldades para te estimular a desistir. Força, foco e fé (risos). Gostou das dicas? Lembre-se o segredo é informação, organização e antecedência. Com isso não há motivos para abandonar seus bichinhos, afinal de contas eles vão adorar curtir a nova casa ou as férias com você.
Check list
1. Garantir que o animal saudável, vacinado, vermifugado e com antiparasitário em dia;
2. Identificação animal. É necessário aplicar o Microchip (padrão ISO 11784 e ISO 11785) que serve como um passaporte para que seu animal não se perca, nem seja extraviado. Se programe antes, pois nem todos os veterinários fazem esse procedimento. * O MICROCHIP PRECISA SER APLICADO ANTES DA VACINA;
3. Vacinação antirrábica (pode e deve ser feito no mesmo dia da chipagem).
4. Sorologia Antirrábica, feita 30 dias após a vacinação, envolve coleta sanguínea, centrifugação e separação do soro;
5. Preparação e envio da Sorologia para um laboratório aprovado pela Comissão Europeia. Nós tivemos que enviar para um laboratório nos Estados Unidos, porque nenhum no Brasil estava habilitado. Entretanto soube no aeroporto que já existe um laboratório habilitado em Belo Horizonte – MG;
6. Sorologia dentro dos padrões permitidos e quarentena. A partir da data da sorologia, começa a contar o prazo da quarentena obrigatória (3 meses) antes de viajar. O resultado do exame costuma ficar pronto em aproximadamente um mês, um mês e meio;
7. Agendar um horário no Ministério da Agricultura de um aeroporto internacional para avaliação da documentação e emissão do CZI (Certificado Zoosanitário Internacional); Existem aeroportos que exigem agendamento com 30 dias de antecedência (como o de Guarulhos) e outros que permitem agendamentos na semana anterior (como o de Salvador);
8. Emitir um Atestado de saúde padrão com o veterinário responsável pelo seu pet (com data máxima de 7 dias antes da viagem/entrada na União Europeia). Além disso, no mesmo dia é preciso fazer tratamento antiparasitário interno (vermífugo) e externo (coleira antiparasitária);
9. Ir ao Ministério da Agricultura do aeroporto escolhido, com posse dos documentos originais para a análise e emissão do CZI (Certificado Zoosanitário Internacional) que obrigatoriamente com data máxima de 10 dias da viagem/entrada na União Europeia.
Hórus tá reinando na vida hahahha.. Obrigada amiga
😍😍😍🔮
E Horus, mais pleno, viajado e fotogênico que muita gente. Amando os relatos dessa Deusa ruiva! 💛